Apesar de existir uma vasta literatura sobre a guerra dos 16 anos em Moçambique, pouco se sabe sobre a dimensão ambiental e espiritual do conflicto. A principal imagem que emerge da literatura sobre esta guerra é a violência contra civis, destruição, depleção de recursos naturais e perturbação social.   Com base na revisão de literatura, pesquisa de arquivo e entrevistas com veteranos de guerra e camponeses que residiam nos campos de batalha, este artigo muda a análise da guerra dos 16 anos em Moçambique das narrativas de destruição e depleção para a análise da forma como este conflicto esteve inserido na vida espiritual e ambiental. O artigo argumenta que, o destaque dado à destruição e depleção de ecologias, incluindo humano, ofusca a contribuição  da guerra dos 16 anos na regeneração espiritual e ambiental dos ecossistemas locais. Uma análise das entrevistas e da literatura, trás à luz experiências individuais que complicam e, por vezes desafiam assunções amplamente aceites sobre os efeitos da guerra na devastação dos recursos naturais. Contrariamente ao conhecimento convencional, este artigo demostra que a guerra prolongada contribuiu para a regeneração de florestas, da ‘fauna marginalizada’, criação de condições para uma actividade religiosa intensa e desenvolvimento de redes sociais de solidariedade. O artigo é parte do corpo crescente de literatura sobre ecologia da guerra. Ao usar depoimentos orais e observação não participante numa área relativamente negligenciada pelos estudiosos da guerra em Moçambique, este artigo abre espaço para pesquisas futuras de tópicos similares

Palavras-chave: Moçambique, guerra, regeneração, ambiente, espiritual