Conferências UEM, XIII CONFERÊNCIA CIENTÍFICA DA UEM: 50 anos de Independência de Moçambique

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Djabula salvou o Licuati: leitura histórica de uma paisagem de carvão no Maputaland de Moçambique
F Zacarias, A Cabral, M Temudo

Última alteração: 2025-07-22

Resumo


Introdução: A ameaça colocada pela produção de carvão à conservação da floresta do Licuáti é uma preocupação nacional e internacional. O Licuáti é parte da comunidade florística do Maputaland - simultaneamente Centro de Endemismo e domínio pré-colonial Tembe-Thonga. A continuidade ecológica imbuída nesse território e seus modos de vida, foi irreversivelmente perturbada pela partição de fronteiras entre Portugal e Reino Unido, assentes e revistos entre 1875 e 1896. Utilizamos o momento fundador do estabelecimento de uma fronteira colonial, para observar historicamente a evolução desta paisagem, onde o carvão sempre esteve presente.

Objectivos: A partir da aldeia de Djabula, que circunscreve a porção mais extensa da Floresta do Licuáti, recuperamos a evolução do coberto em quatro períodos históricos: pré 1896; 1896-1975; 1975-1992; 1992-presente. A análise enquadra-se numa leitura ecocrítica pós-colonial, procurando na história aprofundar a compreensão sobre as alterações de coberto, causas subjacentes e formas como até hoje se faz presente.

Metodologia: Recuperação de cartografia, memórias descritivas e relatórios em arquivo histórico. Pesquisa bibliográfica produzida sobre a região em Moçambique e África do Sul. Recolha e interpretação de imagens de satélite. Entrevistas e observação participante de longo prazo.

Resultados: A estabilidade dos limites do Licuáti contrasta com a profunda alteração do coberto circundante. O cruzamento de métodos identifica o período pós-1992 como o de mais intensa transformação. A revolução deslegitimou e antagonizou a autoridade tradicional com impacto sensível na gestão dos recursos naturais, criminalização da produção de carvão e eclosão de conflitos intra-comunitários.

Conclusões: Observou-se uma tendência de alienação da população local sobre as decisões respeitantes ao seu território. A estabilidade observada dos limites do Licuáti é uma conquista do direito consuetudinário, prova da inextricável ligação entre conservação e justiça social e em linha com o paradigma libertário de Nguenha: as pequenas comunidades como «escolas de autonomia».

Palavras-chave: História ambiental, Licuáti, Carvão, Nguenha.