Conferências UEM, XIII CONFERÊNCIA CIENTÍFICA DA UEM: 50 anos de Independência de Moçambique

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Estética Realista e afirmação da “moçambicanidade literária” no conto Ma-Bhato de Aníbal Aleluia
Eurosinanda Adelino Mussui, Eurosinanda Adelino Mussui, Eurosinanda Adelino Mussui

Última alteração: 2025-06-30

Resumo


Este ensaio busca analisar o conto Ma-Bhato, de Aníbal Aleluia, que se insere no contexto da literatura moçambicana pós-colonial. Este emerge como um exemplo marcante da busca por uma afirmação identitária e literária própria, após séculos de dominação portuguesa. Publicado em 1987, o conto reflecte o conflito entre a herança colonial e o desejo de construção de uma “literatura autenticamente moçambicana”. A análise centra-se na estética realista da obra e na maneira como Aleluia incorpora elementos culturais e linguísticos locais para afirmar uma “moçambicanidade literária”. O estudo propõe-se a investigar os recursos utilizados pelo autor, como a espacialidade (exemplificada pela toponímia), a linguagem híbrida (português/changana) e a onomástica (antropónimos de origem changana), que contribuem para o enraizamento da narrativa no universo cultural moçambicano. A abordagem adoptada é qualitativa, baseada na análise textual e na revisão bibliográfica, com especial atenção às estratégias narrativas que evidenciam o realismo social e cultural da obra. A construção de personagens típicas, como Muandu e Racy, bem como a ambientação em espaços físicos e sociais familiares – a palhota e o cais – reforçam a ligação entre literatura e vivência quotidiana. Além disso, o uso significativo da língua changana, os recursos narrativos ancorados na oralidade local, e a crítica incisiva ao legado colonial tornam Ma-Bhato uma obra paradigmática da transição da literatura de resistência para uma literatura de afirmação cultural plena. Conclui-se que Aníbal Aleluia, ao retratar de forma crítica e esteticamente elaborada a realidade moçambicana, contribui significativamente para a consolidação de uma identidade literária própria, inserindo-se com relevância no cânone do realismo africano de língua portuguesa.

Palavras-chave: Moçambicanidade; Realismo literário; Pós-colonialismo; Identidade cultural