Conferências UEM, XIII CONFERÊNCIA CIENTÍFICA DA UEM: 50 anos de Independência de Moçambique

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ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES À SECA: O CASO DO DISTRITO DE MACHANGA, ENTRE OS ANOS DE 2014–2024
Luís Macuvage Domingos

Última alteração: 2025-07-17

Resumo


Este estudo tem como objetivo analisar as estratégias de adaptação desenvolvidas pelos agricultores familiares do Distrito de Machanga, localizado na província de Sofala, Moçambique, face aos eventos recorrentes de seca ocorridos entre os anos de 2014 a 2024. A região, caracterizada por sua forte dependência da agricultura de subsistência, tem sido desafiada por um cenário climático cada vez mais imprevisível, marcado por longos períodos de estiagem, irregularidade das chuvas e degradação ambiental. A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa e descritiva, com base em revisão bibliográfica, entrevistas com agricultores locais, representantes de organizações não-governamentais e técnicos de instituições públicas. Os dados empíricos foram complementados com análises de relatórios meteorológicos e estatísticas agrícolas do período em estudo. Os resultados revelam que, diante da crescente variabilidade climática, os agricultores familiares implementaram diversas estratégias adaptativas. Dentre as mais recorrentes destacam-se: a diversificação de culturas com ênfase em espécies tolerantes à seca (como sorgo e mandioca), a prática de cultivo escalonado, o armazenamento de sementes, a utilização de técnicas de conservação de água (tais como cisternas e barragens artesanais), e o fortalecimento das redes de solidariedade comunitária. Em alguns casos, observou-se também o recurso à migração sazonal e à diversificação das fontes de rendimento, incluindo pequenos negócios informais e trabalhos assalariados temporários. Apesar das iniciativas locais, o estudo aponta limitações significativas relacionadas ao acesso restrito a recursos financeiros, tecnológicos e ao frágil apoio institucional. A ausência de políticas públicas eficazes voltadas à resiliência climática da agricultura familiar tem agravado a vulnerabilidade socioeconômica das comunidades afetadas. Conclui-se que, embora os agricultores familiares de Machanga demonstrem capacidades adaptativas significativas baseadas em conhecimentos tradicionais e práticas experimentais, a resiliência a longo prazo requer intervenções estruturais, com destaque para programas de extensão rural, acesso a crédito adaptado à realidade local, desenvolvimento de infraestruturas hídricas e integração de políticas climáticas com ações de desenvolvimento rural sustentável