Última alteração: 2025-07-18
Resumo
Introdução: As abordagens participativas são frequentemente promovidas como soluções ideais para a gestão sustentável dos recursos naturais. No entanto, estudos como os de Tompkins et al. (2000), Aubriot et al. (2018) e Naiga (2018) alertam que sua aplicação acrítica pode mascarar desigualdades e reforçar estruturas de poder existentes. O projeto ProSuLi adotou metodologias participativas visando a inclusão de todos os atores nos processos de decisão. Contudo, os processos foram significativamente influenciados por dinâmicas de poder implícitas e não expressas, favorecendo interesses específicos, ainda que apresentados como decisões coletivas. Essa influência, não considerada no desenho metodológico, comprometeu o alcance da inclusão e dos resultados esperados. Objetivo: analisar as dinâmicas de poder entre os atores da liderança local em Mavunguane, no contexto do ProSuLi, para reflectir sobre os limites das abordagens participativas em contextos sociopolíticos pouco compreendidos. A metodologia foi qualitativa, combinando revisão bibliográfica, análise de relatórios do projeto e entrevistas semi-estruturadas com actores-chave. Resultados: Os resultados indicam que os actores que participaram activamente nas fases do projecto pertenciam, em sua maioria, a linhagens com maior influência na comunidade (M2, M3 e M4). As análises sugerem que essa participação tendenciosa pode estar relacionada a três fatores principais: 1-o projectou assumiu pressupostos sociopolíticos baseados em estudos anteriores, e assim, retardou captar as dinâmicas de poder e as nuances do contexto local. 2-Postura dos facilitadores: a abordagem adoptada pode não ter sido suficientemente reflexiva e sistemática. 3-A limitação do tempo e recursos pode ter sido um obstáculo do projecto para aprofundar o entendimento sobre o contexto sociopolítico e as dinâmicas de poder entre os actores. Conclusão: A experiência do ProSuLi evidencia que abordagens participativas sem atenção crítica às relações de poder podem reproduzir exclusões. Para alcançar uma governança local justa, é essencial reconhecer e abordar os fatores históricos e sociopolíticos que moldam essas relações.