Introdução: Um dos principais riscos associados à construção civil (CC) é a exposição ao pó de cimento, sílica, além de outros substâncias perigosas. O contato com estes materiais acarreta o risco de uma série de doenças, incluindo a desregulação do sistema imunológico humano e danos inflamatórios (frequentemente irreversíveis). Uma das primeiras alterações observadas é nos parâmetros sanguíneos, como a hemoglobina corpuscular média (HCM) e a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), que podem indicar alterações nocivas no organismo antes que ocorram danos irreversíveis. A compreensão da epidemiológia de doenças hematológicas relacionadas ao ambiente e à ocupação é fundamental para garantir medidas protecção à saúde.

Objectivo: Analisar a relação entre a exposição a agentes tóxicos e as alterações hematológicas em trabalhadores da CC no contexto do Projecto de Plano de Reassentamento de Inhassoro, em Inhambane, Moçambique.

Metodologia: O estudo foi transversal retrospectivo, envolvendo dados secundários de 34 trabalhadores da CC (expostos), submetidos a exames médicos no Centro de Saúde Boa Vida, antes (fevereiro) e depois (maio) da admissão ao trabalho na CC, em 2024. Amostras de sangue foram coletadas de cada participante e os parâmetros hematológicos foram analisados. Os dados foram analisados no SPSS, considerando um intervalo de confiança de 95%.

Resultados: A idade média dos trabalhadores foi de 34±8,13 anos e mediana de 34 anos, sendo a maioria (77,78%) com idades entre 18 a 39 anos. Cerca de 71% dos trabalhadores estava envolvida em tarefas de CC, seguindo-se o sector de abertura de fundações (11.11%). Foram identificados como agentes tóxicos de exposição e respectivas concentrações médias medidas no ambiente de trabalho, a sílica cristalina (60 µg/m³), asbesto/amianto (0.05 fibs/cc), chumbo (45 µg/m³), fumos de solda/manganês (6 mg/m³), compostos orgânicos voláteis/ benzeno (0.8 ppm) e pó de madeira (1.2 mg/m³). A sílica cristalina, fumos de solda e pó de madeira estavam acima do limite permissivel. Observou-se uma considerável frequência de casos anemia (35%) e leucocitose (76%) e alteracões de outros índices hemáticos, após a exposição. A maioria dos parâmetros (linfócitos, monócitos, granulócitos, hemoglobina, eritrócitos, hematócrito, HCM, CHCM e plaquetas) apresentaram diferenças significativas nos seus níveis (p<0,05), antes e depois da exposição.

Conclusão: Este estudo mostra que trabalhadores da CC actuando em ambientes perigosos recebam educação em saúde e utilizem regularmente dispositivos de proteção no local de trabalho. Também a crucial a realização de exames médicos regulares, que podem ajudar a detectar problemas de sáude e doenças em estágios iniciais.

Palavras-chave: Saúde ocupacional, Trabalhadores da construção, cimento, parâmetros hemáticos.