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CONTRACEPÇÃO SÓ PARA “MWANACADZI”: SEXUALIDADE, REPRODUÇÃO E ACESSO NA CIDADE DA BEIRA
Anifa Graciete Vilanculo

Última alteração: 2025-06-30

Resumo


A.G. Vilanculo

anifagraciety@gmail.com

A presente pesquisa analisa o imaginário social que permeia o uso da contracepção entre mulheres na cidade da Beira. A literatura que tive acesso aborda o tema a partir de três perspectivas: a informação como factor determinante para o uso de métodos contraceptivos; a multiplicidade de factores que condicionam esse uso; e as dinâmicas contextuais que influenciam a sua utilização no quotidiano. No entanto, estas abordagens apresentam limitações ao fragmentarem a análise, não permitindo compreender como as lógicas que estruturam o uso da contracepção se articulam com categorias sociais em contextos específicos. Com o objectivo de compreender como o uso da contracepção é socialmente condicionado por categorias de legitimidade sexual e reprodutiva atribuídas às mulheres, foi realizada uma pesquisa etnográfica na cidade da Beira, recorrendo a entrevistas e observação participante. A análise centrou-se nas narrativas das participantes sobre as suas trajectórias sexuais e reprodutivas, o contacto com a contracepção e a sua utilização quotidiana. Os dados revelam que apenas as mulheres socialmente consideradas como “Mwanacadzi” são vistas como usuárias legítimas da contracepção, por serem reconhecidas como aptas a manter relações sexuais e a procriar. Em contraste, as “Mwana” são percebidas como inelegíveis, sendo estigmatizadas quando recorrem à contracepção. Este imaginário dominante é historicamente reforçado pelos discursos institucionais dos programas de planeamento familiar. A pesquisa revela que a aceitabilidade da contracepção é fortemente influenciada por categorias sociais de legitimidade sexual. Compreender estas lógicas culturais é fundamental para o desenho de políticas públicas mais inclusivas e eficazes em saúde sexual e reprodutiva.

Palavras-chave: categorias sociais, contracepção, legitimidade, imaginário social