Conferências UEM, XIII CONFERÊNCIA CIENTÍFICA DA UEM: 50 anos de Independência de Moçambique

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Perfil de Mortalidade Neonatal e em Crianças de 1 a 59 meses em Diferentes Níveis de Unidades Sanitárias: Análise de Certificados Médicos de Causa de Morte em Moçambique
Milton Afonso Sengo, Sheila Nhachungue, Sheila Nhachungue, Simeão Tivane, Ferão Mandlate, Cremildo Manhiça, Christel Cardoso, Azarias Mulungo, Ivalda Macicame

Última alteração: 2025-07-18

Resumo


Introdução: A mortalidade neonatal e infantil permanece um grave desafio de saúde pública em Moçambique, com elevadas taxas de óbitos em menores de cinco anos. A ausência de dados clínicos sistematizados limita a compreensão precisa das causas de morte e a formulação de políticas eficazes. Este estudo visa caracterizar os perfis de mortalidade neonatal (0–27 dias) e infantil (1–59 meses) nas províncias de Manica e Zambézia, com base em dados de Certificados Médicos de Causa de Morte (MCCoD), desagregados por nível de unidade sanitária.

Metodologia: Trata-se de um estudo transversal baseado em dados recolhidos nos certificados de óbitos de neonatos e crianças 1 a 59 meses, entre Outubro de 2023 e Março de 2025 em 79 unidades sanitárias (52 na Zambézia e 27 em Manica) por profissionais de saude treinados usando um tablet . Foram feitas analises usando um software Stata 17a

Resultados: Foram analisados 1.159 óbitos de neonatos e crianças menores de cinco anos, dos quais 51,2% ocorreram em recém-nascidos (0–27 dias) e 48,8% em crianças de 1 a 59 meses. A distribuição foi equilibrada entre as províncias, com 49,6% dos óbitos registados na Zambézia e 50,4% em Manica. Entre os neonatos, destacaram-se como principais causas de morte: prematuridade (38,0%), asfixia perinatal (29,0%), sepsis neonatal (14,3%) e malformações congénitas (7,7%). Nas crianças de 1 a 59 meses, predominaram pneumonia (26,4%), malária (22,1%), diarreia (15,8%) e desnutrição (10,6%). A maioria dos óbitos ocorreu em unidades sanitárias de maior complexidade: 42,1% em unidades de nível terciário e 15,2% em nível quaternário; as unidades primárias e secundárias registaram 28,1% e 14,6% dos casos, respetivamente. Registou-se uma ligeira predominância de óbitos entre crianças do sexo masculino (53% na Zambézia; 56% em Manica). A cobertura vacinal total foi reduzida: 33% das crianças estavam completamente vacinadas, sendo a taxa mais elevada em Manica (41%) e mais baixa na Zambézia (26%).

Conclusão: A elevada proporção de mortes neonatais por prematuridade e asfixia perinatal aponta para fragilidades nos cuidados maternos e perinatais, exigindo melhorias no pré-natal, parto institucional e cuidados ao recém-nascido. Nas crianças de 1 a 59 meses, causas evitáveis como pneumonia, malária e diarreia continuam predominantes, reforçando a necessidade de prevenção, tratamento precoce e aumento da cobertura vacinal. Investir na qualidade dos serviços de saúde em todos os níveis é crucial.

Palavras-chave: Mortalidade neonatal, causas de morte, MCCoD, unidades sanitárias, Moçambique.