Conferências UEM, XIII CONFERÊNCIA CIENTÍFICA DA UEM: 50 anos de Independência de Moçambique

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LÍNGUA E DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÓMICO EM MOÇAMBIQUE: QUE RELAÇÃO?
cumaio13 Armando CUMAIO

Última alteração: 2025-06-09

Resumo


O artigo propõe uma reflexão crítica sobre o papel da língua como elemento central na construção da identidade nacional, partindo da provocação “matar a tribo para nascer a nação?”, expressão que denuncia as tensões entre diversidade étnico-linguística e projectos políticos de unidade nacional. A investigação ancora-se metodologicamente numa abordagem histórica e na recolha de depoimentos, com o objetivo de compreender como discursos e políticas linguísticas moldaram a noção de nação em contextos pós-coloniais, com ênfase particular no caso moçambicano. A análise é guiada por três eixos interpretativos: o primeiro concebe a nação como uma construção política e universal, conforme as formulações de Hobsbawm (1990, 2000), Ngoenha (1998), Ivala (2002) apud Basílio (2010), e Leite [1983] apud Basílio (2010); o segundo destaca a exaltação de individualidades consideradas heróis nacionais como parte do processo simbólico de edificação da nação, geralmente liderado por elites políticas detentoras do poder do Estado (Marshall, 2006; Cainelli, 2004; Ribeiro, 2005; Garcia, 2008; Barreto, 2011; Basto, 2013; Meneses, 2018; Posse, 2020); por fim, a terceira perspetiva chama atenção para a importância das questões étnico-linguísticas no reconhecimento identitário e nas disputas de pertença, conforme argumentam Anderson (1991), Dias (2002), Firmino (2002) e Mazula (2008). Conclui-se que a língua, longe de ser neutra, é um dispositivo de poder que tanto pode incluir quanto excluir sujeitos na narrativa nacional, refletindo conflitos entre homogeneização política e pluralidade cultural.

Palavras-chave: língua, identidade, nação, elite política, etnicidade, memória histórica