Introdução: A vacinação constitui uma das intervenções de saúde pública mais bem-sucedidas a nível mundial. Estima-se que cerca de 146 milhões de crianças com menos de 5 anos tenham sido protegidas contra doenças infecciosas graves. Em Moçambique, apesar dos impactos positivos da vacinação, o número de crianças que não completam o calendário vacinal continua elevado, contribuindo desta forma para um aumento de casos de doenças evitáveis por vacinas.

Objectivos: Identificar factores individuais e contextuais associados à quebra vacinal em crianças dos 12 aos 23 meses.

Métodos: Utilizou-se dados transversais do Inquérito Demográfico e de Saúde 2022–23 de Moçambique. Foram incluídas 1.523 crianças entre 12–23 meses que receberam a primeira dose vacinal (BCG). Factores associados à variável de desfecho foram considerados significativos se p ≤ 0.05 nos modelos de regressão logística multinível. Todas as análises levaram em conta o desenho da pesquisa e foram realizadas no STATA versão 17.

Resultados: A prevalência da quebra vacinal foi de 21.7% (IC 95%: 18.6–25.1%). Foram identificados como factores de risco: residir em zonas rurais (OR = 4.46; p = 0.002), e nas províncias da Zambézia (OR = 13.07; p = 0.01) ou Nampula (OR = 6.31; p = 0.03). Factores protectores: 1–3 consultas pré-natais (OR = 0.18; p = 0.039), posse de cartão de saúde (OR = 0.33; p = 0.001) e viver em agregados com 1–2 crianças menores de 5 anos (OR = 0.04; p = 0.029).

Conclusões: Os resultados fornecem uma perspectiva única e integrada sobre os factores de risco para abandonar a vacinação entre crianças moçambicanas e podem apoiar a implementação de programas de intervenção que visam reduzir a quebra vacinal. Intervenções como reforço dos cuidados pré-natais, promoção do uso de cartões de saúde e melhoria do acesso rural são essenciais para ampliar a cobertura vacinal.

Palavras-chave: Imunização, Quebra vacinal, IDS, Modelos Multinível.