Última alteração: 2025-07-18
Resumo
A história não contada das mulheres moçambicanas que migraram para a República Democrática Alemã, 1979-1990
Introdução: Durante a luta de libertação, Moçambique desenvolveu relações diplomáticas com vários países a nível global. Após conquistar a independência em 1975, Moçambique assumiu a orientação Marxista-Leninista em 1977. No âmbito deste alinhamento ideológico, Moçambique se tornou num dos parceiros estratégicos da República Democrática Alemã (RDA). Com efeito, em Fevereiro de 1979, o governo da República Popular de Moçambique e da RDA assinaram um acordo de cooperação e amizade, que previa o envio temporário de moçambicanos para trabalhar em vários sectores da economia alemã. Metodologia e objectivos: Este artigo baseia-se na revisão de literatura, pesquisa de arquivo e entrevistas orais para analisar as histórias da emigração de mulheres moçambicanas para a RDA. O artigo argumenta que a emigração de mulheres moçambicanas para a RDA constitui a primeira experiência oficial documenta de emigração laboral de mulheres para o exterior, marcando uma mudança significativa na cultura migratória moçambicana historicamente dominada por homens. Conclusões: Com base nas experiências individuais de mulheres migrantes, o artigo conclui que a emigração da mulher para a RDA abalou o mito da masculinização do trabalho migratório, abrindo espaço para a emancipação da mulher na esfera doméstica e pública. Por fim, a queda do murro de Berlim e o repatriamento dos trabalhadores moçambicanos voltou a ofuscar a participação da mulher no trabalho migratório ao inserir todos os trabalhadores na categoria homogeneizante de “Madgerman.” Esta homogeneização oculta experiências individuais de sacrifício, trauma e luta da mulher pelo bem-estar individual e colectivo.
Palavra chave: Mulher, emigração, Moçambique, RDA