Última alteração: 2025-07-17
Resumo
Introdução: Em Moçambique, estima-se que as infecções sexualmente transmissíveis (ITSs) sejam prevalentes, mas o diagnóstico e o tratamento das ITSs curáveis dependem apenas da gestão sindrómica.
Objectivo: Examinar a prevalência de quatro ITSs não virais e do HIV-1/2, com base no diagnóstico etiológico, associações com factores sociodemográficos e comportamentais, e a precisão do diagnóstico de ITSs baseado em corrimento vaginal em mulheres com queixas urogenitais em Maputo, Moçambique.
Metodologia: Foi realizado um estudo transversal em Maputo, Moçambique, de Fevereiro de 2018 a Janeiro de 2019, com 924 mulheres em idade reprodutiva. Foram recolhidas amostras de zaragatoas endocervicais/vaginais e diagnosticadas infeções por clamídia, gonorreia, tricomoníase e Mycoplasma genitalium utilizando uma PCR multiplex em tempo real (AmpliSens; InterLabServices). Foram efectuados testes serológicos para o HIV-1/2. Um questionário semi-estruturado recolheu metadados. Todos os dados foram analisados no STATA/IC 12.1 utilizando estatísticas descritivas, e testes de qui-quadrado.
Resultados: Cerca de 40% das mulheres tinham menos de 24 anos, 50,8% eram solteiras, 62,1% tiveram a sua estreia sexual entre os 12 e os 17 anos e a queixa principal era a síndrome do corrimento vaginal (85%). A prevalência de clamídia foi de 15,5%, tricomoníase 12,1%, gonorreia 4,0%, M. genitalium 2,1% e HIV-1/2, 22.3%. O fluxograma da síndrome do corrimento vaginal teve uma sensibilidade de 73,0%-82,5% e uma especificidade de 14%-15% para a deteção de qualquer ITS individual não viral em mulheres com queixas urogenitais. No total, 19,2% das mulheres sintomáticas com clamídia, tricomoníase ou gonorreia não seriam detectadas e, consequentemente, tratadas utilizando a gestão sindrómica do corrimento vaginal (tratamento falhado) e 70,0% das mulheres seriam tratadas apesar de não estarem infectadas com nenhuma destas três ITSs (tratamento excessivo).
Conclusão: Foi encontrada uma alta prevalência de clamídia, tricomoníase e HIV-1/2 em mulheres em idade fértil com queixas urogenitais em Maputo, Moçambique. A gestão sindrómica do corrimento vaginal revelou uma baixa precisão na deteção de ITSs em mulheres sintomáticas, especialmente uma baixa especificidade, o que resultou no subtratamento de casos positivos de ITSs no tratamento incorreto ou excessivo de mulheres com queixas urogenitais, muitas das quais eram negativas para todas as ITSs não virais. O diagnóstico etiológico é imperative para o tratamento eficaz das ITSs em mulheres sintomáticas e assintomáticas.
Palavras Chaves: ITS, Mulheres, Mocambique, Mycoplasma