Conferências UEM, XIII CONFERÊNCIA CIENTÍFICA DA UEM: 50 anos de Independência de Moçambique

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A representação do massacre de Homoíne na imprensa moçambicana e internacional: suposições, memórias e (in)consensos, 1987-2014
Dercio Carlos Alberto

Última alteração: 2025-04-22

Resumo


O dia 18 de julho de 1987 é das datas mais significativas da guerra civil moçambicana, em razão de um dos piores e mais mediáticos massacres da História pós-colonial: o massacre de Homoíne. Nas décadas de 1980, 1990 e 2000, a imprensa apresentou continuamente debates e suposições sobre diversos aspectos desse evento, com ênfase em: a) os protagonistas (quem foi responsável pelo massacre da população?); b) o número de vítimas (quantas pessoas morreram e quantas ficaram feridas?); c) as causas do massacre (o que levou a tal evento?); e d) outros questionamentos (como ocorreu? Quem foram as vítimas?). O presente texto pretende discutir um dos eventos mais “marginais” da guerra civil em Moçambique – o massacre de Homoíne –, com foco na representação do mesmo na imprensa nacional e internacional até 2014, ano o distrito voltou a ser palco de uma presença militar atribuída à RENAMO, no contexto da crise político-militar. Este texto “contorna metodicamente” a discussão sobre os responsáveis pelo massacre, entendendo que se trata de um debate que transcende os objectivos do presente trabalho. Para a análise, mobilizamos uma tipologia principal de fontes: a imprensa; composta por jornais nacionais e internacionais. As análises realizadas indicam duas conclusões preliminares: (i) a memória social e colectiva da  guerra e do massacre de Homoíne está amplamente representada na imprensa, que revisita aniversariamente a factualidade do evento, recondicionando algumas suposições e, em certos casos, apresentando novas interpretações; (ii) apesar das limitações da imprensa em um contexto, inicialmente de guerra e, posteriormente, de escassez de recursos, esta desempenhou um papel notável na divulgação nacional e internacional do massacre, mas também contribuiu para a proliferação de estatísticas contraditórias e de fontes pouco claras, o que pode ter influenciado a perda tanto da popularidade da RENAMO em Homoíne quanto do apoio internacional, ao ser frequentemente apontada como responsável.