Esta comunicação trata das comunidades costeiras de Cabo Delgado, nas aldeias/bairros de Ruela, Marringanha no distrito de Pemba e Vamize e Lalane no distrito de Palma. Trata se de comunidades costeiras de afinidades etnolinguísticas variadas e "unidas" pelo seu envolvimento com o mar através da pesca, fabrico de embarcações e outras técnicas/artes relacionadas com o mar. Tomando como base o conceito de territorialidade, definido aqui como sendo uma tentativa/esforço para afectar, influenciar, ou controlar acções, interacções ou acesso afirmando e tentando forçar o controlo de um espaço geográfico, a presente comunicação tenta mostrar que os diferentes membros das comunidades estudadas socorrem se da territorialidade não só para maximizar seus ganhos decorrentes da actividade pesqueira mas também para minimizar suas acções com impacto negativo no ecossistema e condenáveis pelas autoridades. Nas comunidades estudantes notou se uma correlação entre o uso do espaço/território com o género e a idade, esta última que se resume na experiência em lidar com o mar. A área que garante a sobrevivência das mulheres através da pesca situa se na praia e tende a ser encarado no discurso como um espaço feminino. Qualquer tentativa de transgressão do espaço feminino de pesca com pescadores do sexo masculina que pescam a linha é encarada com resistência. Este ensaio tem como base o trabalho de campo realizado em Julho de 2017 na zona costeira da província de Cabo Delgado. Os membros da comunidade foram abordados em grupos de discussão de vinte a sessenta participantes. Além disso, alguns membros da comunidade foram abordados individualmente. A concentração em indivíduos e grupos de discussão abriu espaço para aqueles que são geralmente marginalizados na comunidade, bem como para aqueles que são tímidos de expressar livremente a sua opinião. Também alargou a agência dos membros da comunidade na concepção de soluções para os seus problemas.

Palavras-chave: territorialidade, Cabo Delgado, comunidades pesqueiras.