Última alteração: 2023-08-07
Resumo
Abstract
Um dos grandes desafios da História de Moçambique e de África no geral é a exiguidade das fontes escritas. Para responder a esta limitação, os historiadores têm recorrido a fontes diversas entre elas a tradição oral e a música. Com recurso à música este artigo examina as experiências e respostas dos moçambicanos às sucessivas crises que abalaram o estado pós-colonial. O mesmo parte do pressuposto de que os músicos são influenciados pelo contexto histórico em que se inserem por isso, a música moçambicana no período pós-colonial revela momentos de euforia, desapontamento e uma mistura de audácia, esperança e incerteza quanto aos destinos do país. O artigo argumenta ainda que, dado o historial repressivo do poder político moçambicano, a música como expressão artística popular capta melhor o quotidiano de cidadãos anónimos e constitui um veículo eficaz da expressão da memória colectiva na nação. O artigo observa ainda que, a música tem maior possibilidade de escapar a censura e tem a vantagem de ser difundida a uma audiência ampla. Socorrendo-se do método histórico, revisão de literatura e análise de conteúdo e ritmo das músicas mais sonantes do período pós-colonial, o artigo conclui que os músicos são, ao mesmo tempo, narradores e fontes da história de Moçambique. As suas composições fazem uma descrição e interpretação dos principais eventos históricos em tempo real e podem ser usados por pesquisadores de várias áreas de conhecimento para compreender a sociedade moçambicana no período pós-colonial. Através da música, apreende-se a euforia da proclamação da independência nacional, a experiência socialista, a guerra civil, o descalabro económico, o programa de ajustamento estrutural, a paz, democratização e a desigualdade social que assola Moçambique.
Palavras-Chave: Moçambique, música, história, euforia, desapontamento, esperança e incerteza