Conferências UEM, X CONFERÊNCIA CIENTÍFICA 2018 "UEM fortalecendo a investigação e a extensão para o desenvolvimento"

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OS “IMPRODUTIVOS” URBANOS EM MOÇAMBIQUE, 1975-2015: EXCLUSÃO E RECONHECIMENTO EM FRANTZ FANON E JUDITH BUTLER
Manuel Henriques Matine

Última alteração: 2018-08-16

Resumo


O presente trabalho busca discutir a noção de exclusão em Fanon e de reconhecimento em Butler como categorias de análise do tecido social de Moçambique no imediato pós-independência. Para tal, com base no livro “Os condenados da terra” de Fanon centra a análise na exclusão e encaminhamento para os Campos de Reeducação – a partir de 1974 – de grupos de pessoas que a FRELIMO convencionou chamar de “improdutivos” urbanos. E, apoiando-se nos livros “Relatar a si mesmo: Crítica da violência ética” e “Quadros de guerra: Quando a vida é passível de luto?” da Butler analisa-se a noção de reconhecimento dessas pessoas, a partir de 1988, com a abolição dos campos de reeducação. Metodologicamente, o trabalho baseia-se na seleção e leitura atenta de fontes bibliográficas das ciências sociais. É mister referir a experiência de convivência com os antigos “improdutivos” urbanos e seus filhos, o que não significa o recurso à História Oral como método de pesquisa, mas foi um estímulo na motivação pelo tema e tornou as reflexões instigantes.

Por conseguinte, com o trabalho foi possível alcançar algumas conclusões preliminares, das quais vale destacar: (a) para Fanon, o colonialismo foi um sistema legitimado através da violência, por isso, a única forma de descolonizar é a violência generalizada sustentada pela luta de libertação nacional. Assim, a independência devia oficializar o projeto de formação do Homem Novo baseado na violência e exclusão social. Tem sido essa leitura que justifica a introdução em Moçambique da Operação Limpeza (1974) e Operação Produção (1983), cujos prolongamentos resultaram nos campos de reeducação e (b) para Butler, o reconhecimento é resultado de luta e não se trata de uma perspectiva voluntarista. Devido à condição de precariedade da vida dos antigos “improdutivos” urbanos, a luta ressente-se de agenciamento de intelectuais para se discutir questões de normas de reconhecimento e responsabilidades.

Palavras-chave: “improdutivos” urbanos, exclusão social, campos de reeducação, reconhecimento.