Conferências UEM, X CONFERÊNCIA CIENTÍFICA 2018 "UEM fortalecendo a investigação e a extensão para o desenvolvimento"

Tamanho da fonte: 
AQUISIÇÃO DA ESTRUTURA SILÁBICA DO PORTUGUÊS L2 POR CRIANÇAS DO ENSINO BÁSICO MOÇAMBICANO
Francisco Leonardo Vicente

Última alteração: 2018-08-15

Resumo


 

Francisco Vicente

fvicente79@gmail.com

Faculdade de Letras e Ciências Sociais, UEM

O objectivo deste trabalho foi avaliar o impacto da complexidade silábica na aquisição da fonologia por crianças moçambicanas do Ensino Básico (1ª, 2ª e 3ª classes). As crianças avaliadas são falantes do Português como língua segunda (L2) e a sua língua materna (L1) é o Changana. O interesse em avaliar o desenvolvimento fonológico deste grupo de crianças decorre do facto de existirem diferenças entre propriedades fonológicas da sua L1 e da sua L2. Tais diferenças consistem no facto de, ao contrário do Português, no Changana, sílabas com Ataques ramificados e com Codas serem raras (cf. Langa, 2012). Com base nesta assimetria entre os dois sistemas linguísticos, seguindo Archibald (2009), é legítimo assumir-se a interferência da estrutura silábica da L1 na aquisição da L2, já demonstrada em estudos anteriores (Sato, 1984; Broselow, 1998).

Os dados foram recolhidos com base num ditado de imagens, com o qual as crianças foram solicitadas a produzir oralmente o nome de cada uma das imagens do ditado (cf. Falé et al., 2001; Mendes et al., 2013; Santos, 2013). As palavras testadas incluíam sílabas de diferentes formatos: V (asa),  CV (faca), CCV (prato, blusa) e CVC (porta, balde pasta).

A análise dos dados recolhidos permitiu estabelecer as seguintes ordens de aquisição dos formatos silábicos nos sujeitos avaliados:

1. CV, V >> CVC, CCvibV

2. CV, V >> CVC >> CClatV

A emergência de CV e V(C) no mesmo estádio de aquisição já foi atestada noutras línguas naturais como o Português europeu, o Português brasileiro, o Alemão e o Espanhol (Freitas, 1997; Grijzenhout & Joppen-Hellwig, 2002; Ribas, 2004; Oliveira et al., 2004). Tal argumenta a favor da não marcação não exclusiva de sílabas CV nas línguas naturais (cf. Freitas, 1997; Grijzenhout & Joppen-Hellwig, 2002). As ordens de aquisição entre CVC e CCV estão parcialmente de acordo com as que já foram atestadas em diferentes estudos sobre a aquisição fonológica em L1 (Fikkert, 1994; Freitas, 1997; Levelt et al.,  1999; Rose, 2000; Ribas, 2003; Nogueira, 2007; Oliveira et al., 2004; Almeida, 2011; Freitas et al., 2013; Mendes et al., 2013).

Palavras-chave: aquisição da fonologia, complexidade silábica, língua materna, língua segunda.

 

 

 

 

Referências bibliográficas

Almeida, L. (2011) Acquisition de la structure syllabique en contexte de bilinguisme simultané portugais-français. Tese de doutoramento, Universidade de Lisboa.

Archibald, J. (2009) Second language phonology. In W. Ritchie & T. Bhatia (eds.) The new handbook of second language acquisition, pp. 237-258. Bingley: Emerald Group Publishing Limited.

Broselow, E. (1998) Prosodic phonology and the acquisition of a second language. In S. Flynn & W. O’Neil (eds.) Linguistic theory in second language acquisition, pp. 295-308. Dordrecht: Kluwer.

Falé, I.; Monteiro, O.; Faria, J.; Martins, F. & Faria, I. (2001) TAPAC-PE – Teste de Avaliação da Produção Articulatória do Português-Europeu. Lisboa: Laboratório de Psicologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Fikkert, J. (1994) On the acquisition of prosodic structure. Dordrecht: HIL.

Freitas, M. J. (1997) Aquisição da estrutura silábica do Português. Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa.

Freitas, M.; Costa, T. & Afonso, C. (2013) Sobre a natureza das representações lexicais: aspectos fonológicos e morfológicos na aquisição de /l/ em Português Europeu. IV Seminário sobre Aquisição Fonológica (SAF), Universidade Federal de Santa Maria.

Grijzenhout, J. & Joppen, S. (2002) The lack of onsets in German child phonology. In I. Lasser (ed.) The process of language acquisition, pp. 319-340. Berlin: Peter Lang Verlag.

Langa, D. (2012) Morfonologia do verbo em Changana. Tese de Doutoramento, Universidade Eduardo Mondlane.

Levelt, C.; Schiller, N. & Levelt, W (1999) A Developmental grammar for syllable structure in the production of child language. Brain and Language, 68, 291–299.

Mendes, A.; Afonso, E.; Lousada, M. & Andrade, F. (2013) Teste Fonético-Fonológico – ALPE. Aveiro: Edubox S. A.

Nogueira, P. (2007) Desenvolvimento fonológico em crianças dos 3 anos e 6 meses aos 4 anos e 6 meses de idade nascidas com baixo peso. Tese de Mestrado, Universidade Católica Portuguesa.

Oliveira, C.; Mezzomo, C.; Freitas, G. & Lamprecht, R. (2004) Cronologia da aquisição dos segmentos e das estruturas silábicas. In R. Lamprecht (org.) Aquisição fonológica do Português: perfil de desenvolvimento e subsídios para terapia, pp. 167-175. Porto Alegre: Artmed Editora.

Ribas, L. (2004) Sobre aquisição do onset complexo. In R. Lamprecht (org.) Aquisição fonológica do Português: perfil de desenvolvimento e subsídios para terapia, pp. 151-164. Porto Alegre: Artmed Editora.

Rose, Y. (2000) Headedness and prosodic licensing in L1 acquisition of phonology. PhD Dissertation, McGill University.

Santos, R. (2013) Aquisição de grupos consonânticos e seu impacto nos desempenhos escritos no 1º Ciclo do Ensino Básico. Tese de Mestrado, Universidade de Lisboa.

Sato, C. (1984) Phonological processes in second language acquisition: Another look

at interlanguage syllable structure. Language Learning, 34,43-57.