O objectivo deste trabalho é o de demostrar que a narrativa ambientalista encerra tensões entre os países do norte-global e as aspirações desenvolvimentistas de África. Em termos metodológicos faz-se análise de documentos oficiais de organismos multilaterais, designadamente as resoluções das Nações Unidas de 1972, 1992 e 2002, que versam sobre a temática ambiental. Analisam-se igualmente as resoluções da União africana relativamente à mesma temática.  Os resultados da análise sugerem a existência de um campo político-social de forças, onde, por um lado, os países africanos, considerados “subdesenvolvidos”, aceitam formalmente as directivas ambientalistas globais que sugerem a incorporação da ideia de sustentabilidade ambiental nas práticas desenvolvimentistas, em troca de recursos financeiros e investimento estrangeiro, mas que, ao mesmo tempo, traçam políticas de desenvolvimento que tomam os recursos naturais, especialmente a sua flora e fauna, como seus principais impulsionadores. Do mesmo modo, os países do norte-global, considerados “desenvolvidos”, ancorando-se num discurso de assistencialismo econômico e do livre comércio, adentram cada vez mais nos países africanos, explorando intensivamente os seus recursos minerais. A concluir, a análise mostra que independentemente da forma como orientam os seus discursos face às questões ambientais, tanto os países do norte-global quanto os africanos, têm nos recursos naturais um importante factor de desenvolvimento. O que os diferencia, porém, é que enquanto os países africanos apostam na sua fauna e flora como impulsionadores do seu desenvolvimento, o que é visto pelos países do norte-global como agressão à biodiversidade, estes veem essa possibilidade na exploração intensiva dos recursos minerais do continente africano.

Palavras-chave: Desenvolvimento; Recursos naturais; Sustentabilidade ambiental; Norte-global; África.