Desde os primórdios da humanidade a oralidade, enquanto principal meio de transmissão de conhecimentos, jogou um papel crucial na vida dos povos ágrafos e não só, por forma a garantir a sobrevivência da espécie humana. A oralidade é o meio através do qual um povo codifica a sua vida e o seu comportamento, quer na comunicação diária, quer na transmissão do conhecimento, quer no seu comportamento mágico-religioso, visando a defesa e a continuidade da identidade do grupo. É neste âmbito que o presente estudo visa: (i) descrever as práticas culturais de promoção de saúde e direitos sexuais e reprodutivos (SDSR) e outros conhecimentos do grupo etnolinguístico Makhuwa; (ii) identificar os responsáveis pela promoção das referidas práticas no grupo Makhuwa; e (iii) analisar a quem se transmitem as práticas, quando se transmitem e o papel das referidas práticas no grupo Makhuwa.

Para a recolha de dados foi aplicada uma metodologia qualitativa, onde foram feitas entrevistas profundas, discussões em grupos focais, observação não participante. Os dados foram analisados tematicamente através do Nvivo Pro11. Os resultados do estudo revelam que: (i) as práticas de promoção de SDSR e outros conhecimentos são feitas através de ensinamento directo no dia-a-dia; ritos de iniciação e literatura oral; (ii) especialistas da comunidade, curandeiros, adultos e idosos são os responsáveis por fazer a promoção das práticas; (iii) as práticas culturais são transmitidos a crianças, adolescentes e jovens, como forma de prepará-los para a vida adulta e garantir a auto regeneração dos Makhuwa.

O estudo reafirma o papel preponderante do conhecimento de língua e práticas culturais de promoção de SDSR e outros conhecimentos através da oralidade.

Palavras-chave: Práticas culturais, saúde e direitos sexuais e reprodutivos, rituais de iniciação e literatura oral