Última alteração: 2023-08-01
Resumo
A DOENÇA DO CHAMAMENTO COMO UM ELO DE LIGAÇÃO ENTRE OS VIVOS E OS MORTOS
Dulamito Ardichir Aminagi & Marlino Mubai
Resumo
Este artigo, elaborado com base em entrevistas qualitativasem aos Praticantes de Medicina Tradicional (PMT) administradas no âmbito do projecto “Abordagem Sócio-Cultural e sua Contribuição na Mitigação da Malaria em Moçambique"[1], na revisão de literatura e pesquisa de arquivo, tem como objectivo principal mostrar que a maioria dos PMT, padeceram da doença de chamamento, antes de iniciarem o seu ofício. E, aflorando alguma literatura sobre doenças psico-somáticas e rituais de passagem, consta que doença do chamamento simboliza a escolha do espírito familiar, sobre um dos seus membros, para prosseguir com a tradição. E que uma vez escolhido, sinal do papel coercivo dos espíritos ancestrais sobre seus descendentes, o individuo tem que abandonar tudo e seguir ao chamamento, caso contrário, adoence eternamente. Dos resultados etnográficos constata-se que o espírito hospedeiro, que se apossa do doente e controla a doença do chamamento, com manifestações graves e diversificadas, escolhe um nyamussoro-mestre, que ajuda o doente a "domesticar" o espírito. Compreend-se que os entrevistados, após processos de ritualização e renascidos após morte simbólica, a partir de sonhos e com recurso a um frasco da consulta, curam pessoas. Resultados apresentados permitem concluir que, a doença do chamamento é heriditária e impossível fugir-se dela e os PMT, conformados com o seu destino, perpetuam a herança do poder ancestral para a posteridade.
Palavras-Chave – Praticante de Medicina Tradicional. Doença do chamamento.
[1] Levado a cabo pelo ARPAC em 2015. As entrevistas foram administradas nas provincias de Cabo Delgado (Distritos de Ancuabe e Chiure); Nampula (Distrito da Ilha de Moçambique e Monapo); Zambézia ( Distritos de Quelimane e Mocuba); Sofala (Distritos de Caia e Buzi) e Maputo Província – (Distritos de Matutuine e Manhiça), respectivamente.