Conferências UEM, XI CONFERÊNCIA CIENTÍFICA 2020: Investigação, Extensão e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável

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ENTRE NACIONALISMO E COSMOPOLITISMO - A BIOGRAFIA INTELECTUAL DE EDUARDO CHIVAMBO MONDLANE
Livio Sansone

Última alteração: 2021-08-03

Resumo


A rica e complexa vida de Mondlane e’ atravessada pelas ciências sociais, questões de autenticidade, internacionalismo e lutas de memória. O primeiro presidente da Frelimo tinha estudado ciências sociais e dava aula de antropologia quando resolveu se engajar com a luta de libertação em 1963.  Minha pesquisa enfoca sua educação superior na África do Sul e Portugal, os doze anos que ele passou nos Estados Unidos – entre vida acadêmica, ativismo e trabalho nas Nações Unidas – e os últimos anos de sua vida entre 1964 e 1969, quando sua base passou ser Dar es Salam, Tanzânia. A mistura de educação tradicional africana, educação pela Missão Suíça, educação superior na África do Sul e Portugal, mestrado e doutorado nos Estados Unidos, emprego nas Nações Unidas e ensino da antropologia (sobretudo na Universidade de Syracuse) tornam sua personalidade mais rica, complexa e atraente. A reconstrução desta parte da biografia de Mondlane coloca em evidencia, no desenvolvimento de um jovem protestante assedado por justiça social que se torna um cientista social e, mais adiante, o líder da luta pela independência de Moçambique – revolucionário, anticolonialista e com uma original perspectiva antirracista -, qual e’ a influencia das ideias oriundas das ciências sociais no tocante a questão racial, os africanismos e a modernidade africana. A reconstrução desta biografia intelectual, como na maioria das biografias, coloca a questão da agência: ate’ que ponto sua vida determina o contexto ou e’ determinada pelo contexto. A relevância desta investigação se deve também ao fato que os conflitos e as contradições na biografia de Mondlane antecipam e dramatizam diversas questões dos debates principais daquela que podemos chamar de luta pela memória em Moçambique, ou seja, a releitura, agora a partir de vários pontos de vista frequente em conflito entre si, da história recente e dos regimes de memoria que tem sido estabelecidos. Em Moçambique, assim como em outros países africanos, estes regimes de memória preveem a criação e a manutenção do status de imortalidade para algumas figuras centrais no âmbito da narrativa acerca da Nação.