As mudanças climáticas levam ao aumento da temperatura, mudanças nos padrões de precipitação e aumento de eventos climáticos extremos. As populações cujos meios de subsistência estão intrinsecamente conectados aos recursos naturais, pecuária, pesca e agricultura são as mais afectadas. Não obstante, estes fenómenos têm um impacto desproporcional em mulheres e raparigas. Embora os casamentos prematuros sejam quase sempre o resultado de vários factores interconectados, esta pesquisa procurou explorar se existe uma relação entre mudanças climáticas/eventos climáticos extremos e casamentos prematuros. Para isso, foram seleccionados dois distritos em Moçambique que são vulneráveis às mudanças climáticas/eventos climáticos extremos: o distrito de Moma, na província de Nampula que é ciclicamente afectado por cheias e secas e o distrito de Funhalouro, na província de Inhambane, um dos mais afectados pela seca provocada pelo fenómeno El Niño de 2015-2016. Estes fenómenos afectaram de maneira negativa a produção agrícola e actividade pesqueira destas regiões e consequentemente devastaram a segurança alimentar e a produção económica das famílias. A partir de uma revisão de literatura, seguida de entrevistas em profundidade e questionários administrados a 30 agregados familiares de cada distrito, o estudo constatou que com o início da seca e o aumento do nível dos rios, muitas famílias usaram o casamento prematuro como um mecanismo para aumentar a renda (através do pagamento do preço da noiva) ou reduzir o número de dependentes na família. Sendo assim, o casamento prematuro de filhas é uma estratégia de adaptação usada por algumas famílias para gerenciar as consequências das mudanças climáticas/eventos climáticos extremos. Estes fenómenos constituem, deste modo, factores de risco ao casamento prematuro em populações vulneráveis.

Palavras chave: casamentos prematuros, eventos climáticos extremos, mudanças climáticas e vulnerabilidade.