Conferências UEM, XI CONFERÊNCIA CIENTÍFICA 2020: Investigação, Extensão e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável

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A contribuição do comércio informal nas transformações económicas e sociais no meio rural em Homoine e Massinga. (1990-2014)
Victor simoes Henrique

Última alteração: 2021-07-17

Resumo


Objectivos:

  • Analisar as reformas políticas e económicas em Moçambique durante a década de 1980.
  • Descrever as transformações sociais e económicas no meio rural nos locais de estudo decorrentes da pratica do comercio informal
  • Mostrar a influência da redução de contratação de trabalhadores para as minas, para a emergência  e desenvolvimento do comercio transfronteiriço no local de estudo.

Metodologia

Para a realização deste estudo, recorreu-se à observação directa, mediante a deslocação do pesquisador para alguns locais onde esta actividade é praticada com regularidade em alguns distritos da província de Inhambane, nomeadamente Homoine, Maxixe, Morrumbene e Massinga, sendo que a natureza da pesquisa não consistiu no estudo da actividade comercial transfronteiriça dentro dos limites administrativos, mas sim, o estudo foi realizado em função da área geográfica abrangida pela prática da actividade.

Paralelamente a observação directa, foram realizadas entrevistas semi- estruturadas com alguns intervenientes nesta actividade, visando buscar as suas experiências, expectativas sobre a actividade, assim como o recurso as historias de vida, que permitiram perceber a contribuição desta actividade como factor catalisador de transformações sociais e económicas que ocorrem nas suas famílias e no meio rural onde vivem.

Para além das entrevistas realizadas aos intervenientes directos (comerciantes informais), foi possível conversar com alguns transportadores dos comerciantes que operam na rota Joanesburgo-provincia de Inhambane(para os distritos de Massinga, Homoine, Maxixe e Morrumbene) por se tratarem de intervenientes muito importantes nas viagens, pois, além do domínio sobre as rotas seguidas no âmbito da actividade, nomeadamente o conhecimento dos mercados ou locais onde se efectuam as compras.

Resultados:

A prática da actividade informal tem tendências de ser dominada maioritariamente por mulheres, sobretudo jovens que não tendo muitas opções de ocupação de acordo com as respostas obtidas ao longo das entrevistas, mostrando que a mulher rural esta em fase da quebra das velhas relações sociais em que era considerada fada do lar (Jairoce, 2016), procriadora e dependente do seu esposo(Mayisela, 2015), produtora de alimentos, pela pratica da agricultura (Crush), e passa a ter um posicionamento tendente a igualdade, nas relações sociais, devido ao seu papel activo na provisão de recursos.

Esta atitude emancipatória das mulheres comerciantes transfronteiriças, quando a questão do casamento ou união conjugal, contribui para a redução de casos de poligamia nos locais de estudo, o que contribui grandemente para a quebra de antigos paradigmas sociais e uma cada vez maior emancipação das mulheres.

A participação das mulheres nas actividades do comercio informal conduz a um processo de varias transformações económicas no meio rural, sendo que a com base na observação realizada no local de estudo, complementada pelas entrevistas, foi possível constatar que o comercio transfronteiriço constitui uma estratégia de sobrevivência económica, providenciando alimentos, ocupação da mão-de-obra local, segurança alimentar, aquisição de recursos financeiros, abertura de novos mercados para a comercialização de vários produtos.

Conclusões

A liberalização da economia iniciada no contexto da assinatura do acordo de adesão de Moçambique as instituições do Breton Woods em 24 de Setembro de 1984, culminou com a introdução do PRE em Maio de 1987  foi outro factor muito decisivo para o avanço da economia informal no meio rural em Moçambique, pois, permitiu a abertura  para a economia do mercado, abandonando a economia centralmente planificada do período imediatamente depois da proclamação da independência, o que é corroborado por Abreu(2008) ao  afirmar que a economia informal surge e cresce como negação a repressão económica, que teve  lugar em muitos países onde predominou o controle estatal sobre os preços, as taxas de juro e câmbios que tem  limitado a iniciativa privada e o pleno funcionamento dos mercados.