Antecedentes e objectivos: Neste estudo, exploramos retrospectivamente se as experiências adversas na infância (EAI) tiveram algum efeito percepcionado na satisfação com a vida em jovens moçambicanos. Além disso, exploramos se esta associação é mediada pela sintomatologia psicopatológica e pelas interacções que as próprios EAI estabelecem entre si.

Métodos: Os dados foram recolhidos a partir de uma amostra aleatória sistemática (n = 1075) de estudantes universitários de oito províncias de Moçambique, através de escalas validadas e entrevistadores treinados. Foram realizadas análises utilizando modelos de equação estrutural e modelos lineares de regressão de efeitos fixos.

Resultados: Do estudo constatou-se que o abuso e a violência familiar têm uma relação negativa, directa e significativa (p < 0.001) com satisfação com a vida e estavam positivamente ligados à sintomatologia psicopatológica. A violência comunitária contribui para taxas mais elevadas de abuso e violência familiar e, através desta relação, a violência comunitária exerce uma influência indirecta e negativa na satisfação com a vida. A sintomatologia psicopatológica desempenha uma função mediadora na relação entre todas as formas de EAI e satisfação com a vida.

Conclusão: A investigação futura deve pesquisar se o perdão, a família e o apoio social fazem parte da dinâmica das jovens vítimas de EAI em Moçambique e, como essas dinâmicas podem contribuir para o seu ajustamento psicossocial. A mediação familiar e comunitária parecem ser os caminhos mais adequados para a prevenção dos EAI e, poderia centrar-se na capacitação das crianças sobre como pedir ajuda e, na capacitação dos adultos sobre estratégias de negociação na interacção com as crianças, bem como priorizar debates sobre os direitos humanos, relações de género, na coexistência interpessoal e na assistência mútua.

Palavras-chave: Experiências adversas na infância, Satisfação com a vida; Depressão Ansiedade, violência